Letras

(...) Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

De muito gorda
A porca já não anda
(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...
(...)

Jornalismo


Em pleno ano de 2008, há dois temas em discussão que de forma inacreditável, permeiam a sociedade brasileira. A primeira delas é a questão da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para a atuação no mercado de trabalho. Pesquisas recentes declaram que 70% dos brasileiros acreditam que os jornalistas tenham que ter o diploma. Menos mal, pois se essa porcentagem fosse menor ou contrária, ou seja, 70% achassem que não, era o caso de mudar de país. A imprensa é um poder social, a liberdade de expressão é uma conquista e uma certeza: vivemos numa democracia, tem-se que fiscalizá-la.
A segunda questão é sobre impunidade: crimes bárbaros cometidos contra repórteres, a grande maioria sem culpados, sem solução. A reportagem de investigação tem riscos, mas como é possível que um profissional perca sua vida sem que os culpados sejam punidos? São muitos os casos de violência contra jornalistas, muito mais do que se pensa. Organizações como Impunidad e Repórteres sem fronteiras existem para exigir providencias, para garantir a liberdade de imprensa. Sempre que possível, assine os abaixo assinados do site impunidad e cobre justiça.

Literatura

Os comentários sobre a China mais interessantes que você ouviu durante os Jogos Olímpicos, com certeza, foram os de Sônia Bridi. Isto tem dois motivos:primeiro, ela é uma excelente repórter, segundo, viveu dois anos naquele país. Suas experiências neste lugar tão paradoxal estão relatadas no seu livro Laowai (estrangeiro em chinês). Bem escrito, literatura fluente, quando você lê a última página e fecha o livro, você tem certeza que esteve por lá.

Viagem

Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir. Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o principio, é o nosso conceito do mundo.
É em nós que as paisagens tem paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como as outras. Para que viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.

Fernando Pessoa

Literatura

O vídeo completo (do arquivo N - Globo News) tem 20 minutos e pode ser encontrado no link : http://br.youtube.com/watch?v=1PoU8aVRRAI. Nele, a jornalista Leda Nagle conversa com um de nossos grandes poetas: Carlos Drummond de Andrade. O poeta foi um homem de seu tempo, de sua gente, de seu país. Dica de leitura: BoitempoII, Sentimento do Mundo, Seleta em Prosa e Verso.

 
letrasecaminos © 2010 | CB -LC | Back to top